Um dia antes da escuridão ela pensou em se matar. Dois dias depois da escuridão ela está com a sua faca mais cara na mão. Lê cegamente Tramontina com os dedos, junta e levanta os cabelos com a mão enquanto evoca sensualmente o diabo – Receba este corpo em vida, deguste o meu ódio e o meu amor, minha face agora é sua (corta os cabelos com um golpe de faca), minha pele é sua luva (corta as alças do vestido, que cai ao pés) e qualquer temor é meu inimigo pecador! (enfia com o lado cego a faca gelada na calcinha e sussurra em hebraico) ללקק את השטן בתחת שלי... – Estefani puxa a calcinha rasgada que enrola nos joelhos e sai nua de sua casa colonial com escadas de pedras com a Tramontina na mão. Ela sente o gramado úmido ao mesmo tempo em que um embaralhado de pensamentos e adrenalina impulsionam o acelerar de seus passos, sente seus cabelos de uma forma nova ao mesmo tempo em que se lembra da intervenção satânica o que a faz diminuir os passos respectivamente em proporções contrárias enquanto chora, em 0 Km inicia um movimento de giro no próprio eixo e molha o cabo Tramontina levado ao rosto. Estefani fala consigo mesma enquanto para de soluçar: – Eu não preciso de ritual, criar sentido para as coisas, cortei meu cabelo, que merda, nunca mais “paranóia wicca” na minha vida! – Ela volta para casa, toma um banho, come, dorme e sonha: um shopping cheio de pessoas, torta de bacalhau, um diálogo de Telma e Selma de Os Simpsons e aspiradores de piscina.
por henrique de sá
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