por hanny saraiva
sexta-feira, 23 de julho de 2010
II
Quando a escuridão chegou ao local onde ela estava, pensou que sua alma havia parado. Pensou nas possibilidades pós-morte e até ter os olhos acostumados à negritude, sentiu o próprio coração entre os dedos. Pulsava consciência e líquido. Ninguém mentia em meio à escuridão. Às vezes quando achava que piscava e nada enxergava, seus olhos varriam cores. Cores que na verdade faziam parte de seu imaginário. Sa queria correr porque a solidão do pretérito-mais-que-perfeito a perturbava. Por qual motivo as luzes teriam ido embora? Por que os pensamentos a transportavam para frente e para trás? Por mais que ela quisesse se acostumar à escuridão, pipocavam imagens de outrora. Para onde partir? Aqui. Ali. O corpo pediu movimento e ela encostou-se à parede. Era gelada, como freezer descongelando. A cabeça começou a doer, a latejar na têmpora. De repente, toda sua estrutura física era sangue percorrendo veias. De repente, todo seu suor de medo havia desaparecido e só restavam algumas palavras de desorientação. A ESCURIDÃO trazia essa ânsia por imagens. Como se o peito sufocasse se as coisas iluminadas não fossem lembradas. Como se todo o efeito do mundo não fosse grito lá fora, mas um fantasma perseguindo o silêncio. A audição era estranha. Ouvir uma gota, um arrolhar, um acorde no fundo. Alguém tocava folk. Como poderia deslizar os dedos na corda se ela nem conseguia se mexer? A melodia cortou seu eu, que começava a rasgar o tempo com linhas imaginárias. SA abriu a porta. Escutou quando o alumínio encontrou-se com as dobradiças e sentiu a respiração do mundo em uníssono. O que as pessoas sentiam ela nem imaginava, mas ela deu o primeiro passo e gritou seu próprio nome para o fim. Como resposta ouviu um “Eu também”.
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