segunda-feira, 26 de julho de 2010

XIV

Estava entre amigos, me sentei no chão perto da porta e os efeitos começaram a aparecer. Eu já tinha tomado quase uma dose durante os últimos 30 minutos. O suficiente para os efeitos aparecerem. As luzes se multiplicavam. Cada cor e cada movimento. Eu começava a rir sem saber o porquê. Os motivos não eram claros. Eu só procurava saber os motivos. Fiquei preso nisso por um momento. Até que surgiram na minha mente flashes de coisas que me aconteceram durante aquele dia. Um amigo meu me aconselhou a fechar os olhos e os reflexos de luzes presos na minha retina começaram a se ordenar e formar coreografias. De repente comecei a ouvir gritos e algumas mãos começaram a me tocar. Eu só dizia que estava bem. Me lembrei nessa hora da última pessoa que me tocou com tanto desespero. Dois dias antes tinha fodido o sexo que categorizei como o melhor da minha vida. E os reflexos de luzes na minha retina começaram a refazer a cena. Mas um barulho enorme parecido com uma bomba surgiu e me toquei que meus olhos não estavam mais fechados. Mas só conseguia enxergar os reflexos de luzes que estavam colados na minha retina. Não conseguia ouvir mais nada depois do estouro. Continuei a observar a cena que estava sendo formada em meus olhos. Tive a oportunidade de rever com detalhes um momento que eu só havia sentido. As luzes começaram a se apagar aos poucos. E eu não sabia que estava sendo privilegiado em ainda conseguir assistir alguma coisa naquele momento. Quando a escuridão veio a tona senti meu corpo dormente e só então me atentei ao fato de que meus olhos estavam abertos. Não havia luz. Não havia som. Depois esperei o desespero por toda a eternidade, pois eu nunca me sentira tão leve na vida. Quando me batia a saudade, eu relembrava os momentos mais felizes da minha vida. E me orgulhava de ter a memória perfeita. Nunca mais senti meu corpo. Eu estava preso somente a minha memória. Até que um dia a memória me falhou e eu não era mais nada.

por josé alsanne

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