quarta-feira, 20 de outubro de 2010

CI


A “ coisa” aconteceu tão repentinamente que não permitiu que planos fossem traçados e alguma defesa engendrada com o intuito de rechaçar de imediato a invasão que se fazia iminente. Tudo começou tão rápido que não houve meio pra que algo fosse feito pra se defender daquele inesperado e surpreendente ataque, onde as trevas pondo em risco o próprio equilíbrio do Universo, acabaram por dominar a luz, pra levar com elas todas as cores dos nossos arco-íris e das auroras boreais, com intenção de explorá-las comercialmente. Durante o tempo em que a claridade ia se apagando, as sombras que se materializavam ao seu redor eram tragadas por uma medonha escuridão que a tudo invadia e dominava. 
O medo se estabeleceu criando confusão e pânico. Até mesmo para as estrelas, protegidas pela distância que as separava daquele ponto, faltou coragem pra abrir seus olhos de luz e enxergarem ao longe o estranho fenômeno que se apoderava da abobada celeste, demonstrando clara intenção de esconder-se atrás das próprias sombras para, no momento propício, praticar o assalto e tomar pra si as cores dos nossos arco-íris e das auroras boreais. Nem o sol com toda a sua grandeza conseguiu fazer com que seus raios penetrassem na densa e tenebrosa escuridão. 
O horror instalara-se por todo aquele imenso espaço, levando ao  mais completo desespero uma população inteiramente petrificada pelo pavor que a tornava incapaz de reagir diante do inusitado. Aterrorizadas, as pessoas procuravam se unir umas às outras, buscando se proteger. Porém, apesar de tudo, aqueles momentos de sofrimento e desespero fizeram com que grande parte das pessoas envolvidas naquele triste episódio meditasse sobre seus pontos de vista em relação a tudo que as cercava. Principalmente naqueles que dissessem respeito aos seus semelhantes. A reflexão as levou a fazer algumas interrogações pra si mesmas. Reviram alguns conceitos de vida. E se perguntaram: Só diante do medo inesperado teriam que ser iguais? Por que não, sempre? O consenso foi geral: Não eram melhores nem piores do que ninguém. E foi assim que velhos tabus foram abandonados pelo caminho; antigas tradições foram quebradas e atiradas
fora; preconceitos de todas as espécies foram deixados de lado e complexos foram esquecidos. No meio do mais completo caos já presenciado, todas as diferenças foram anuladas e deixaram de existir; níveis sociais caíram por terra; os complexos, a partir daquele instante, perderam o sentido pra continuar existindo.
Só mesmo o amor acompanhado de uma grande dose de desprendimento permaneceu mantendo a sua razão de ser durante todos aqueles momentos de pavor e de incertezas.
Depois de passados cerca de seis dias na mais plena e absoluta escuridão, que - na opinião dos amedrontados e bastante modificados moradores da região - valeram por seis séculos. Finalmente, depois desse período de quase uma semana, da mesma forma como chegaram, as trevas se retiraram sem alcançar
seus objetivos, devolvendo o lugar da luz que retornou à sua posição, voltando a ocupar o espaço que por direito sempre foi dela. A partir daquele momento, naquele lugar, nem tudo voltou a ser como era antes.
Dias depois daqueles cruciais momentos de pavor, as autoridades locais mandaram efetuar um balanço patrimonial com a finalidade de apurar os possíveis danos causados por aquele estranho apagão que colocou em polvorosa toda a população de uma vasta e populosa região. Verificou-se, com a realização do trabalho, que todas as cores dos arco-íris catalogados, bem como todos os matizes das auroras boreais, estavam intactos e acomodados em seus devidos lugares. É que com o “ black-out” , receosas de que algo de muito grave pudesse acontecer, todas as cores desses arco-íris e das auroras boreais correram e procuraram se esconder pra se livrarem da perseguição das trevas, que pretendiam tomá-las pra si e fazer com elas um caleidoscópio gigante. Espertas, as cores desapareceram valendo-se do apoio proporcionado pela própria escuridão. Por esse motivo não foram capturadas e nem levadas pelas trevas, que não obstante
tivessem revirado tudo de cabeça pra baixo, não puderam encontrar e nem levar com elas o que premeditadamente tinham ido buscar.

por gelson maciel amaral

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