domingo, 12 de setembro de 2010

LXXXVII

Uma menina andava todos os dias pelos túmulos do Cemitério Bom Retorno, situado na Vila de Três Corações, dizendo que a luz iria acabar. As pessoas que passavam, na maioria das vezes já abaladas pelas circunstâncias da vida, ficavam assustadas com uma menina tão pequena andando por ali sozinha e principalmente dando uma notícia daquelas. Ninguém sabia seu nome, nem quem era sua família, mesmo aquele todos conhecendo todos naquela vila.
No dia do enterro de Seu João, homem idôneo, 65 anos, casado, pai de quatro filhos, dono do sacolão da Vila de Três Corações, a menina acompanhava o cortejo, calada. Todos entraram no cemitério esperando que a menina dissesse alguma coisa. Nada, ela continuava calada.
A viúva de Seu João, já triste por conta do falecimento de seu amado marido, começou a ter “piripaques”, achando o silêncio da menina um mal pressagio.
No momento em que os coveiros abaixavam o caixão, a menina gritou: -É agora!
A Escuridão tomou conta de tudo bem depressa. A viúva desmaiou, os coveiros não sabiam se largavam o caixão ou se continuavam segurando, a parentada toda saiu correndo desesperada.
A mãe da menina gritou lá do portão do cemitério: Luiza, aprontando outra vez menina! Já pra casa, bora!
Ela respondeu: Tô indo mãe!
E saiu andando, sem pressa, em direção a porta do cemitério como se continuasse enxergando todo o caminho.

por luana pinheiro

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