terça-feira, 21 de setembro de 2010

XCV

Aqui está bem melhor, obrigada. Porque eu sempre me senti muito invisível, diferente demais. Uma peça de outro quebra-cabeça. 
Pelo menos agora está todo mundo tão invisível quanto eu, e isso me faz sentir menos anormal. 
Não tem mais as meninas invejosas olhando com cara de fome pra mim, competindo pra ver quem tem o cabelo mais liso e os cílios mais curvos. 
Parece que as pessoas finalmente entenderam aquilo que eu sempre soube: que o inteligente é bonito. Que uma boa conversa é mil vezes melhor do que quem tem os peitos maiores. Agora todo mundo é quem realmente é, sem fingimentos de parecer outro alguém. 
Agora, quem não tem nada a dizer, simplesmente cala a boca e some. Eu gosto daqui do escuro. Não quero a luz de volta. 
A luz me consome demais. 
A luz me machuca demais. 
A luz me maltrata demais.

por mila harrison

XCIV

- Você sente falta?
- Se eu sinto falta... mas falta do quê?
- Você sabe, da luz.
- Depende muito. Algumas coisas eu sinto saudade, outras eu agradeço por não poder ver mais.

*silêncio*

- Não vai me dizer o que é?
- Acho melhor não.
- Por favor, diz.
- Eu sinto saudade da forma que você costumava me olhar. Sinto falta de ver o seu sorriso. Mas eu queria nunca mais lembrar da forma que as pessoas à nossa volta me olhavam, como se eu não te merecesse, como se eu nunca estivesse à sua altura. Como se eu estivesse cometendo um crime.
- Aquela gente. Sabe que eu nunca mais ouvi falar delas?
- Eu também não. Mas... Não sei porque, eu ainda sinto alguém olhando torto pra mim de vez em quando. É bem esquisito.
- Ei, não diz isso. Essas pessoas nunca mais vão nos atrapalhar de novo.
- Nunca mais, não. Até a luz voltar.

por mila harrison

domingo, 19 de setembro de 2010

XCIII

além de me dar medo, o escuro das noites da infância em um casarão de olinda foi responsável por situações vexaminosas. lembro que jamais conseguia achar a porta do quarto, quando acordava com vontade de fazer xixi. e terminava mijando no chão do quarto. o cheiro azedo me denunciava dias seguidos.

por julio ludemir

XCII (Interativo!)

Escreva um comentário completando a primeira frase/balão!

por iris yan

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

XCI

por iris yan

XC

por iris yan

LXXXIX

por iris yan

LXXXVIII

Lúcifer, o primeiro dos caídos, depois de dois bilhões de anos sendo o Chefe do Inferno, decidiu se aposentar. Estava cansado daquilo tudo. Sabia que nunca mais voltaria ao Paraíso. Sabia que sua revolta contra Ele nunca seria perdoada. Sabia apenas que queria outra “vida”.
Depois de ter mandado todos os demônios e almas penadas “às favas”, trancou o principal portão do inferno à chave, pegou emprestado o punhal de um demônio e ficou esperando seu convidado de honra aparecer.
Morpheus apareceu e fez o que Lúcifer lhe pedia. Cortou-lhe as asas a muito sem a inocência dos anjos e ficou de guardião da chave infernal, até que alguém se prontificasse a cuidar do inferno outra vez.
Lúcifer havia esquecido que era o portador da Luz Divina. Lúcifer acabou com a Luz do universo. Aos olhos Dele, essa foi a verdadeira revolta de Lúcifer. A primeira já era esperada, tinha sido planejada. Essa Ele não tinha como resolver. Estava decretado o Fim dos Tempos.

por luana pinheiro

domingo, 12 de setembro de 2010

LXXXVII

Uma menina andava todos os dias pelos túmulos do Cemitério Bom Retorno, situado na Vila de Três Corações, dizendo que a luz iria acabar. As pessoas que passavam, na maioria das vezes já abaladas pelas circunstâncias da vida, ficavam assustadas com uma menina tão pequena andando por ali sozinha e principalmente dando uma notícia daquelas. Ninguém sabia seu nome, nem quem era sua família, mesmo aquele todos conhecendo todos naquela vila.
No dia do enterro de Seu João, homem idôneo, 65 anos, casado, pai de quatro filhos, dono do sacolão da Vila de Três Corações, a menina acompanhava o cortejo, calada. Todos entraram no cemitério esperando que a menina dissesse alguma coisa. Nada, ela continuava calada.
A viúva de Seu João, já triste por conta do falecimento de seu amado marido, começou a ter “piripaques”, achando o silêncio da menina um mal pressagio.
No momento em que os coveiros abaixavam o caixão, a menina gritou: -É agora!
A Escuridão tomou conta de tudo bem depressa. A viúva desmaiou, os coveiros não sabiam se largavam o caixão ou se continuavam segurando, a parentada toda saiu correndo desesperada.
A mãe da menina gritou lá do portão do cemitério: Luiza, aprontando outra vez menina! Já pra casa, bora!
Ela respondeu: Tô indo mãe!
E saiu andando, sem pressa, em direção a porta do cemitério como se continuasse enxergando todo o caminho.

por luana pinheiro

LXXXVI

- Johnny, quem disse que não posso ir até a caixa-d'água? Eu não sou mais criança
- Voce nao eh mais criancca mas a escuridao nao te fez menos cega, boba...
- Acontece que agora o nível de perigo da caixa d'agua fica igual pra todos e o Johnny enxerga tanto quanto eu...
- Johnny o caralho, meu nome é Zé Pequeno!

por anderson barnabé, hanny saraiva, iris yan e mazé mixo

sábado, 11 de setembro de 2010

LXXXV

Sete de setembro.
A voz do presidente soava potente nos alto-falantes, pras pessoas acreditarem que ele estava lá.
- Graças à nossa política de incentivo à pesquisa alcançamos o primeiro lugar em produção de inteligência escura. Em Viçosa foi desenvolvido o atual sistema de agricultura escura adotado pelas sete principais economias da América Latina. A USP realizou o primeiro transplante de órgãos, onde hoje já alcançamos mais de cem mil cirurgias escuras apenas no sudeste - .

Eu não aguentava mais, fechei a janela do apartamento e fui me vestir.
Na atual conjuntura do país, eu demorava a acreditar que ele estava falando de inteligência, agricultura e cirurgias. Lembrei de uma frase que ouvia sempre da minha bisavó: 
- Meu filho, quando havia luz, eles eram exatamente assim. Não mudou nada. Mesmo no escuro eles continuam os mesmos. Político é político com ou sem luz. 
Acabei de me vestir e fui contando os passos até o elevador.
Depois dos de sempre, 32 passos, cheguei ao elevador! Desci os 4 andares pensando "como seria enxergar com os olhos?" isso sempre me parece muito estranho. Enfim, mudei de idéia fui até onde estava o nosso mais competente presidente, sua voz firme e que expressava confiança, dominava o local! Do meio da escuridão e do silêncio uma voz surge em tom de grito fazendo uma pergunta "Senhor presidente? Senhor Presidente me dê a palavra..?..Senhor..." Sem sucesso, desisti da pergunta e de ser um cidadão "atuante". Dois anos depois descobrimos que naquele Sete de Setembro, aquele bonito discurso do presidente não se passava de uma gravação! Foi a maior crise da escuridão até hoje. 

por henrique de sá, luana pinheiro, mazé mixo e veruska thaylla

LXXXIV


Meus sonhos, cada vez mais reais e iluminados
Me mostraram a mesa de xadrez na praça
Me mostraram aquela praia que eu ia comemorar
E você, do meu lado fazendo graça

Meus sonhos, tão claros
Deram sentido à minha retina
Coisa que não se aprende mais nas aulas
Também feriu a biologia

E sorrisos?
Nunca mais foram apreciados
Ou assistidos apaixonados
Nunca mais vi seu sorriso, meu amor

Todos me encaram
Mesmo sem troca de olhares
Esse mundo não tá aprendendo
Olhares não nos servem mais
E dos seus, me dói dizer
Mas sinto já estar esquecendo

Bendita luz que acabou
Espelho que já não me serve
Meus vícios que já sumiram
Você que nunca voltou.
por renan brum

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

LXXXIII

Meu nome é 說書人.
Faz 34 anos que cuido sozinho do templo. Sou o trigésimo nono guardião.Quando o próximo guardião vier, estarei finalmente no sopé do Grande Portão Branco.
Fiquei cego há 3 semanas. No momento em que meus olhos me falharam vários animais choraram no bosque ao longe. Como se soubessem de minha perda. Ou como se tivessem perdido algo também.
Desde então minha rotina não mudou muito. Acordo, faço minha meditação até a hora de cuidar das plantas, me alimento, medito novamente e vou dormir.
Até em meus sonhos continuo cego. Ou ao menos no que penso serem sonhos. Ouço conversas, vozes de outros cegos. Loucos que dizem que a luz do mundo se foi. Sonhos estranhos.
Não me lembro mais das pessoas, só de meu pai e de meu mestre.
Fico aqui, esperando meu tempo, cumprindo minha missão.
Esperando a passagem pelo Grande Portão Branco.
Espero conseguir vê-lo quando chegar até lá.

por mazé mixo

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

LXXXII

- Querido, estamos caminhando há muito tempo. Acho que a essa altura já estamos à beira do precipício.
- Mas já?
- Não sei. Mas continua segurando a minha mão. Eu estou com medo.
- Não se preocupa. Você não me vê, mas consegue sentir? Eu estou bem aqui.
- Às vezes parece que você não está aqui. Só não vai embora, por favor.
- Você não confia em mim?
- Não, eu confio. Me desculpe. Só estou com medo de cair lá embaixo.
- Eu não vou te deixar cair. Eu vou te proteger.
- Me abraça.

(...)

- Só um minuto, vou largar sua mão por um instante. Preciso amarrar meu cadarço.
- Tá.

(...)

- Você ainda está aí?

por mila harrison

LXXXI

Me lembro como se fosse hoje do primeiro carnaval depois que chegou a escuridão. Ninguém levava fé que seria um BOM carnaval. A sorte foi que um grupo de músicos que não me lembro mais o nome, teve a coragem de sair pelas ruas da cidade com barulhentos instrumentos e marchinhas antigas... Contagiou a todos, até mesmo os evangélicos caíram na folia, o que pra eles era uma festa do diabo, naquele dia era uma espécie de “Talvez amanhã o mundo acabe”. Foi o melhor carnaval da minha vida, foi lá que conheci seu avô!

- Conta mais vovó, conta mais...

por veruska thaylla

LXXX

Era uma quarta-feira quando El-Rei Dom Sebastião finalmente regressou. Desceu de sua majestosa carruagem em pleno sertão de Pernambuco. Era o ano 3 da Escuridão. Ainda juntou um bando de homens e mulheres maltrapilhos e fundou Nova Lisboa. Mas tanta espera foi em vão, logo morreu de gripe suína.

por Mazé Mixo

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

LXXIX

Tudo se apagou. Caos total.
Mortes, desespero, saques.
Semana 1.
Mês 1.
Ano 1.
Ano 2.
Ano 10.
Ano 1000.
Ninguém mais se lembra de nada.
D: E eles achavam que não conseguiriam viver sem ela.

por luana pinheiro