terça-feira, 22 de março de 2011

CXXI

Durante todo o processo de concepção se cansava,mas sorria, pois sua vontade de ver pessoas boquiabertas, 
sentindo palavras, descobrindo sensações, comentando prosa, experimentando a contemporaneidade do ser, o tranquilizava.  
Alguns meses passaram e a luz ainda estava ativa, pedindo para ir, pedindo para descansar, mas nada acontecia. 
A resposta da sua vontade veio em um simples telefonema. Dentro de si fogos de artifício. Ele tinha conseguido. 
Viu-se uma casa grande, amarela clara, ser tomada por uma sombra leve em plena luz do dia.

por elaine c esteves

CXX

Pelo limo que fica no canto de cada parede, ele acha que escorrega. Há tempos ninguém limpa nada. Há tempos ele soltara da mão da esposa e há tempos ele não fala com ninguém. Alguém comera o braço dela. Um outro devorara sua costela. Ele, instintivo, não fizera nada. Culpara a escuridão por não se mexer quando ela gritara seu nome e sobrenome achando que ele se confundira quando não foi ajudá-la. Ele ouviu quando quebraram os ossos dela e quando o cheiro de carne ficou em suas narinas por dias. Pois ele também usou da carne dela e a espalhou por seu corpo para que eles não pudessem pegá-lo. Ele dissera que a amava. E foram as gorduras dela que o alimentaram por semanas.
por hanny saraiva

CXIX

Percebeu a escuridão quando seu amor tocou seu ombro e disse: acabou.

por elaine c esteves

quinta-feira, 10 de março de 2011

CXVIII

Bombay é seu nome, é negro, gordo e tem olhos claros.
Caminha lentamente movendo o corpo na direção contrária de suas orelhas.
Observa a confusão de pessoas no tateado do ar cego.
Passa a língua nos lábios.
Atravessa o caminho na frente de alguns.
Escala um muro alto e mia.
Triunfado de que ninguém pode mais descriminá-lo, nem desviar-se dele. 


por elaine c. esteves


CXVII

O mundo dele era obscuro, e quanto mais eu me aproximava daquele ser, ia cegando.  
Quando a escuridão se fez, ele perdeu todo resto de compaixão que tinha por si, e eu cega, o fazia comer na minha mão.


por elaine c. esteves

sexta-feira, 4 de março de 2011

CXVI

Suspenso por duas cordas que findavam o teto roxo, o pequeno caldeirão
borbulhava, já tragado de uma fumaça densa que insistia em dançar no ar,
as mãos que flutuavam nela faziam um movimento circulatório e uma voz
ecoou:

Eis aqui sua filha, filha da terra,
fruto de vosso anseio,
pra dispor minha alma a sua grandeza
e fazer revelar tua divindade
pra esse feitiço não mais singular,
venho a te evocar,
a pedido da escuridão propagar e sob o universo raiar.

Buuffft.

por elaine cristina esteves

CXV

e então tudo escureceu